Resumo:

A aparente incompatibilidade entre os estudos químicos e farmacológicos de uma planta pode ser resolvida com a firme disposição em se abordar racionalmente o problema.  

Os grupos de pesquisas em Química de Produtos Naturais do Instituto de Química de Araraquara - UNESP, de Farmacologia de Produtos Naturais do Instituto de Biologia - UNICAMP e do Instituto de Biociências de Botucatu - UNESP e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara - UNESP iniciaram colaboração há poucos anos, tendo já produzido um considerável volume de trabalho, com significativos resultados na investigação de plantas com atividades antiúlceras gástricas, antioxidante, analgésica, antiinflamatória, anti-tuberculose, de ação sobre o sistema imunológico, citotóxica e mutagênica. Estas duas últimas atividades correlacionam-se também com a atividade anti-câncer.  

Os resultados originam-se de uma estratégia de pesquisa que parte de informações etnobotânicas e etnofarmacológicas, segue com a realização de ensaios farmacológicos preliminares com extratos ou chás, realiza triagem fitoquímica em busca das classes de compostos presentes nos extratos ou chás, prossegue com o isolamento e identificação estrutural dos componentes neles presentes e utiliza os componentes ou frações enriquecidas para a determinação dos prováveis mecanismos de ação farmacológica envolvida com a atividade detectada.

Este projeto dá continuidade ao estudo químico-farmacológico integrado de extratos de plantas, desta vez investigando as espécies que compõe o Bioma Cerrado e Mata Atlântica do Estado de São Paulo, comparativamente ao Bioma Cerrado do Estado de Tocantins, o qual estamos estudando há algum tempo.

Na avaliação das atividades biológicas, são investigados os possíveis efeitos tóxicos da espécie. Na ausência do efeito tóxico agudamente detectável, são investigadas então as atividades antiúlceras (inclusive contra Helicobacter pylori), antiinflamatória, antioxidante, analgésica, anti-tuberculose, ação sobre o sistema imunológico, citotóxica e mutagênica.  

Detectada a atividade, passa-se então à fase de investigação dos componentes químicos possivelmente relacionados com a atividade e que podem ajudar a elucidar os mecanismos de ação envolvidos com as atividades investigadas. A caracterização das propriedades analgésica e/ou antiiflamatória é pesquisada através da ação de substâncias isoladas ou de frações enriquecidas em modelos experimentais específicos utilizando-se de antagonistas da resposta analgésica/inflamatória.

A determinação da atividade antiulcerogênica é investigada através dos efeitos das substâncias isoladas ou presentes em frações enriquecidas sobre receptores, enzimas e substâncias produzidas em resposta a agressões da mucosa, dentre as quais destaca-se a expressão de novas proteínas relacionadas à reparação de lesões na mucosa, como o fator de crescimento epidermal (EGF).

Paralelamente, ensaios de atividade antioxidante (aquela intrinsecamente ligada a alguns mecanismos de atividade antiúlcera), além dos ensaios clássicos de detecção de muco, prostaglandina, somatostatina, gastrina e de antagonismo aos receptores envolvidos com a secreção ácida gástrica, também são realizados.

Estão sendo ainda conduzidos ensaios de atividade sobre E. coli, Yersinia sp e Aeromonas sp, com destaque ainda para Helicobacter pylori – que está relacionado aos processos ulcerosos – e Mycobacterium tuberculosis – agente causador da tuberculose humana, que afeta hoje milhares de indivíduos, especialmente os imunodeprimidos. A ação de extratos, frações enriquecidas e substâncias puras sobre o sistema imunológico também está sendo avaliada, através das técnicas de detecção de NO e H2O2.

Ainda, são avaliados os efeitos genotóxicos das drogas vegetais em linhagens celulares, com e sem ativação metabólica, usando linhagens de Salmonella tiphymurium. Finalmente, os possíveis efeitos citotóxicos das drogas são avaliados pelo teste do Vermelho Neutro em células McCoy.

Para o desenvolvimento da parte fitoquímica, são utilizadas técnicas cromatográficas, principalmente aquelas desenvolvidas para análise de substâncias polares (GPC, XAD2, DCCC, HSCC, HPLC, etc) e determinação estrutural por métodos espectroscópicos (EM, UV, IV e RMN).

Essas análises, realizadas em conjunto, levam a uma rede de informações sobre as atividades farmacológicas da planta em estudo. Associadas aos conhecimentos dos componentes químicos da planta, permitem não apenas estabelecer estratégias mais adequadas para o aproveitamento racional da espécie, mas também fornecem subsídios para o entendimento dos mecanismos de ação farmacológica.