BE-180 - Introdução à Ecologia (1º semestre de 2010)

Curso de Graduação em Ciências Biológicas

Instituto de Biologia - Universidade Estadual de Campinas

Apresentação Programa Docentes Alunos Informes Textos e Aulas


RESUMOS (Projetos desenvolvidos na excursão de Ubatuba)

SESSÃO DE PAINÉIS - 30/06/2010 - 9:00 às 11:00h

LOCAL: CORREDOR DO IB, PRÓXIMO À BIBLIOTECA

Beija-flores apresentam comportamento agressivo para defender reservas alimentares mais ricas (Alessando Garritano, Caio Graco, Isabel Franke, Paula Paolillo, Rafael Pereira, Renata Morelli). Os beija-flores alimentam-se do néctar das flores, que apresentam açúcar, uma boa fonte de energia para essas aves. Algumas espécies de beija-flores apresentam comportamento territorialista, defendendo fontes de néctar, enquanto outras usam estratégias diferentes para garantir seus recursos, como as linhas de captura, por exemplo. As flores de diferentes espécies apresentam néctar de diferentes concentrações. O objetivo de nosso trabalho foi testar se os beija-flores aprendem a diferenciar as concentrações ao longo do tempo e passam a defender fontes com maior concentração de açúcar. Esperou-se também que os antagonismos fossem proporcionais à freqüência das visitas dos beija-flores. Este trabalho foi realizado no sítio do Jonas, no Sertão da Praia Dura, Ubatuba, São Paulo. Colocamos garrafas com concentrações de açúcar de 0% (água), 5%, 10% e 20% e contamos a freqüência de visitas por cinco espécies de beija-flores e a quantidade de antagonismos, intra e interespecíficos. As contagens foram realizadas em períodos de 15 minutos, a cada hora, das 10h às 16h. Ao longo do dia foram observadas, em todas as garrafas, 2014 visitas e 1798 antagonismos. Observamos que os beija-flores perceberam a diferença de concentrações das soluções ao longo do tempo reduzindo as visitas à água, e que ocorreram mais antagonismos na garrafa com a solução de 20 %. Não houve uma relação entre a freqüência de visitação às garrafas e a quantidade de brigas (intra ou interespecíficas). Isto pode ser uma conseqüência dos antagonismos estarem relacionados ao comportamento agressivo da espécie e não à concentração do açúcar das garrafas.

Predominância de cooperação ou competição em populações de Brachidontes solisianus em um costão rochoso de Ubatuba-SP (Aline Luisa Mansur, Danielle Del Corso, Felipe Augusto de Oliveira, Marianne Azevedo Silva, Pedro Augusto dos Santos Longo, Vanessa Marcilio de Sousa). Mexilhões podem viver em agregados, podendo se relacionar de duas maneiras distintas: competindo ou cooperando. Define-se competição como relação entre organismos onde há prejuízo para uma das partes, e a cooperação como uma interação entre duas espécies ou organismo de uma mesma espécie onde uma das partes é beneficiada. Levando em conta que essas relações podem ser influenciadas pela densidade populacional, nosso objetivo foi analisar se há predominância de competição ou cooperação em mexilhões comparando agregados de alta e baixa densidade no costão rochoso da Praia Grande na cidade de Ubatuba-SP. Espera-se que caso eles apresentem menor comprimento em alta densidade prevaleça a competição ou caso contrário a cooperação será maior. Para isso, coletamos 15 amostras da espécie Brachidontes solisianus em agregados de alta e baixa densidade e medimos o comprimento dos indivíduos. Com o comprimento médio por amostra realizamos um teste t para análise dos resultados. Após análise estatística dos dados, obtivemos valores que indicam que mexilhões que vivem nos agregados de alta densidade apresentam maior comprimento do que aqueles que vivem nos de baixa densidade (t= 2, 2646; p= 0, 341). De acordo com os resultados nota-se que prevalece a cooperação. No caso de agregados de mexilhões, a cooperação se dá pelo acúmulo de água intersticial que permite uma maior oferta de alimentos. Não se descarta a hipótese de competição, mas ela deve ocorrer principalmente em função do espaço, não causando danos visíveis aos mexilhões agregados.

Densidade e comprimento da concha do gastrópode Echinolittorina lineolata em costões rochosos de Ubatuba, SP (Pedro Joaquim Bergamo, Bruna Lucheze Freire, Thereza Santomauro de Muzio, Jennifer Ribeiro Paiva, Gabriela Malta Felix da Silva, Julia Cabral Teresa). Echinolittorina lineolata é o gastrópode dominante nas zonas supralitoral e mesolitoral de costões rochosos da costa brasileira. O presente trabalho analisa a existência de um gradiente vertical na densidade e no tamanho de concha de indivíduos que ocupam as diferentes zonas do costão. Espera-se que indivíduos menores e em maior densidade sejam encontrados no mesolitoral. As áreas de estudo foram determinadas de acordo com a exposição às ondas, sendo a praia da Enseada menos agitada e a praia Grande mais agitada, ambas em Ubatuba, SP. Foram utilizados cinco quadrados de 25x25 cm para a contagem de indivíduos em cada zona de cada um dos costões. Foram coletados 50 indivíduos aleatoriamente em cada zona e o comprimento das conchas foi obtido com um paquímetro. Os resultados sugerem que a densidade de indivíduos no mesolitoral é significativamente maior que no supralitoral. Em relação ao tamanho das conchas, os indivíduos do supralitoral possuem maior comprimento médio. A exposição às ondas parece afetar essa variável, visto que foram encontrados indivíduos maiores na Enseada, quando comparados à Praia Grande. Provavelmente, indivíduos maiores não encontram refúgios adequados contra o impacto das ondas.  O recrutamento larval desta espécie ocorre no mesolitoral e, portanto, ali permanecem os animais mais jovens, que só após atingir certo tamanho passam a se estabelecer na região supra.

Distribuição espacial de tocas de Maria-Farinha (Ocypode quadrata – Crustacea: Decapoda) na Praia Brava, Ubatuba – SP (Ana P. Ferreira, Gabriel L. Centoducatte, Jaderson S. L. Armanhi, Mariana Rímoli, Pedro S. Peres, Thais da Costa). Marias-farinha (Ocypode quadrata) são caranguejos comumente encontrados em praias arenosas. Abrigam-se em tocas distribuídas na região entremarés, cujos diâmetros são diretamente proporcionais ao porte dos indivíduos que as constroem. Esse trabalho analisou a distribuição espacial dessas tocas em relação à linha d’água. A hipótese é que indivíduos maiores constroem tocas mais afastadas da linha d’água, enquanto os menores, mais próximas. Foram medidos os diâmetros de 198 tocas e suas distâncias em relação à linha da maré alta, na Praia Brava da Fortaleza, em Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo. Posteriormente, as distâncias foram padronizadas em relação à toca mais perto da linha da água. Observou-se que tocas com mais de 45 mm, consideradas grandes, localizavam-se mais perto da restinga. Tal fato explica-se porque indivíduos maiores localizam-se mais perto de onde obtêm alimento (próximo à vegetação), uma vez que sua resistência à dessecação permite que se afastem do mar. Já as tocas dos mais jovens estão distribuídas aleatoriamente por toda a praia, não havendo o padrão esperado.

Evidências da relação de comprimento de concha e retorno energético na predação de bivalves por gastrópodes na Praia Dura Ubatuba- SP (André Mouro D’Angioli, Fernanda Meneguim Seraphim, Ingrid F. M. Gafanhao, Karine F. R. Mansur, Leonel Teixeira da Silveira, Natalia Ambar de Almeida). A freqüência com que organismos consomem uma presa pode refletir aspectos tanto da abundância e disponibilidade dela, como de preferência alimentar ou de acesso à presa. Gastrópodes predadores vivem na superfície do substrato se alimentando de bivalves. Eles possuem rádulas especializadas para abrir furos nas valvas, o que caracteriza as conchas que foram predadas. Adotaram-se como hipóteses que as conchas menores, por serem as mais abundantes, seriam as mais predadas e que conchas maiores apresentariam marcas de predação maiores, por terem grande quantidade de massa visceral, resultando em alto ganho energético para gastrópodes maiores. O trabalho foi realizado na Praia Dura, no município de Ubatuba, SP. A coleta do material foi realizada de duas formas: Estabeleceram-searcelas de 2m² onde se coletaram todas as conchas encontradas; posteriormente foi realizada uma busca ativa para obter-se apenas conchas que apresentaram a marca da predação. Foi feita uma separação em morfoespécies encontradas e o comprimento da concha e o diâmetro do furo foram medidos. Determinou-se como conchas menores as que ficaram abaixo dadiana de todas coletadas. Foi comparada a distribuição de comprimento das conchas predadas e não predadas com o teste Kolmogolov-Smirnov. Concluímos que não houve relação entre predação e tamanho. O gastrópode pode apresentar tal comportamento por não selecionar especificamente a concha que irá predar, alimentando-se de qualquer indivíduo que apresentar-se disponível. Realizando o teste de regressão linear simples concluímos que bivalves com conchas maiores apresentaram predação por gastrópodes maiores, corroborando com nossa hipótese em relação ao retorno energético.

Influência da integração clonal na transpiração e resistência estomática de  Hydrocotyle bonariensis em Ubatuba (Gabriel V. Santello, Gabriela B. Berro, Ivan N. Cardoso, Paulo N. Bernardino, Veridiana A. Jardim). Solos arenosos de praias e dunas costeiras são habitats restritivos para o estabelecimento e crescimento de plantas, pois apresentam baixa disponibilidade de nutrientes e água e altos níveis de salinidade. Plantas com crescimento clonal estolonífero dominam esses habitats, mas os mecanismos que favorecem a sobrevivência de plantas com este tipo de crescimento ainda não são bem conhecidos. O objetivo deste estudo foi avaliar o papel da integração clonal no desempenho ecofisiológico de Hydrocotyle bonariensis. Testamos a hipótese que plantas integradas apresentariam melhor desempenho em condições adversas que plantas não integradas. Realizamos o estudo em um cordão arenoso na praia do Lázaro, Ubatuba-SP. Para avaliar o desempenho ecofisiológico, medimos resistência estomática e transpiração em doze indivíduos de H.bonariensis, submetidos aos seguintes tratamentos: rametas integrad os e desconectados (ambos irrigados e não irrigados com água do mar). Em cada tratamento, adotamos rametas-parentais (mais distantes do mar) e rametas-filhos (mais próximos do mar). A irrigação simulou a maré alta atingindo as plantas filhas. A água salgada induziu o fechamento estomático, mas a magnitude das respostas variou entre os tratamentos. Rametas-filhos desconectados apresentaram maior fechamento estomático e menor transpiração que filhas ligadas e irrigadas com água salgada, indicando que o estresse hídrico de rametas próximos ao mar pode ser aliviado pela translocação de água de rametas-mãe bem hidratados. A integração clonal entre rametas permite a transferência de recursos de microhabitats favoráveis para os menos favorecidos e pode explicar o sucesso de plantas com crescimento estolonífero clonal nesses ambientes estressantes.

Padrão de secreção e a influência da remoção de néctar em flores de Psycotria nuda (Rubiaceae), em uma área de Mata Atlântica (SP) (Ana Luiza Muler, Fabio Vuolo Maia Floresta, Gabriel Dainesi, Gabriel Lorencini Fiorin, Gabriela de Souza Marques, Priscila Riccardi). O néctar consiste em uma das maiores fontes de energia fornecida aos polinizadores. Cada planta o produz com quantidades de açúcar variadas e possui diferentes padrões de secreção, que podem ser alterados pela visita do polinizador. A dinâmica de produção do néctar e a influência de sua remoção foram analisados em flores de Psycotria nuda (Rubiaceae). O estudo foi desenvolvido em uma área de Mata Atlântica em Ubatuba (SP), onde foram realizadas retiradas sucessivas de néctar em cinco grupos de flores em intervalos de duas horas, entre 8h00 e 16h00, nas quais foram medidos o volume e concentração. A produção do néctar ocorreu até às 8h00, cessando entre 8h00 e 14h00, sendo retomada após às 14h00. As flores cujo néctar foi removido cessaram sua produção. Provavelmente, a maior produção de néctar às 16h00 está relacionada a um pico de atividade dos  polinizadores nesse horário, ou a um maior investimento de energia para aumentar a atração de polinizadores antes da senescência da flor. O mosaico formado pelas flores que produzem néctar e as que não o produzem, traz economia de energia para a planta, uma vez que o polinizador ao procurar néctar em uma flor pode polinizá-la, mesmo que ela não tenha produzido néctar. Outro possível fator de economia para a planta é a capacidade de cessar a produção de néctar após sua remoção pelo visitante floral. Provavelmente, porque uma visita seria suficiente para polinização devido à grande quantidade de pólen produzida.

Variação na distribuição de tocas de Uca sp em áreas arenosa e de mangue no estuário do Rio Escuro Ubatuba- SP (Amanda Araújo Gomes Ferreira, Marcelo Ventura Rubio, Maria Jesús Cañada, Paulo Eduardo A. Mamede, Sthéphanie Louise Cavalcanti de Brito). Os caranguejos do gênero Uca são filtradores de sedimento encontrados comumente na região de mangue, caracterizada pela transição do ambiente marinho e estuarino, sujeita a alterações de salinidade, disponibilidade de nutrientes e diferentes sedimentos que afetam a qualidade de sítios onde constroem suas tocas para proteção e reprodução. No estuário do Rio Escuro, no município de Ubatuba-SP caracterizamos duas regiões: uma próxima ao mar com vegetação rasteira e sedimento arenoso; e uma composta de sedimento orgânico contendo mangue. A hipótese do trabalho foi de encontrar, na área de mangue, uma maior quantidade de tocas de Uca sp, assim como as maiores tocas devido a uma maior disponibilidade de matéria orgânica fornecendo melhores condições de crescimento. As tocas de Uca sp em cada área foram contadas e seus diâmetros medidos com auxilio de fotografias padronizadas e divididas em duas categorias de tamanho. Por meio do teste t mostramos uma forte tendência de maior quantidade de tocas na área de mangue. A área próxima ao mar apresentou mais tocas grandes enquanto que na área de mangue, maior densidade de tocas. Contrário à hipótese inicial, a freqüência de tocas grandes foi maior na área próxima ao mar, porém o tamanho médio encontrado nessa área não superou a da área do mangue; possivelmente devido a um maior favorecimento ao desenvolvimento de caranguejos na área de mangue e um maior afastamento entre as tocas, diminuindo a densidade total. Também observamos um desvio para tocas pequenas na área de mangue possivelmente por propiciar o recrutamento larval.