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Fernando
Pedroni. 1993.
Dispersão e recrutamento de Copaifera
langsdorffii Desf. (Caesalpiniaceae) na reserva municipal de Santa
Genebra.
Resumo: O presente trabalho teve como
objetivos conhecer alguns aspectos básicos sobre a ecologia da
copaiba, Copaifera langsdorffii Desf. (Caesalpiniaceae) numa
floresta semidecídua no sudeste do Brasil. São discutidos
os fatores que influenciam o comportamento fenológico da espécie
(Capítulo 1); alguns aspectos da frugivoria (Capítulo
2); predação de sementes (Capítulo 3) e da estrutura
da população (Capítulo 4). O estudo foi desenvolvido
na Reserva Municipal de Santa Genebra, Campinas, São Paulo, Brasil
(22°49'4"S; 47°06'33"W - 670 m altitude). O clima
da região é sazonal com uma estação seca
e fria (abril a setembro) e uma estação úmida e
quente (outubro a março). Foram analisadas a floração,
frutificação, queda de folhas e brotamento. As observações
foram feitas em cerca de 30 indivíduos que puderam ser observados
da trilha que contorna a Reserva com o uso de binóculos. O número
de indivíduos observados variou durante o estudo pela inclusão
de alguns e morte de outros. A queda de folhas e o brotamento foram
as fenofases mais sincronizadas dentro da população. Estes
eventos ocorreram no final da estação seca (queda de folhas)
e início da estação chuvosa (brotamento) estando
relacionados com a disponibilidade de água. A floração
ocorreu na estação chuvosa e a frutificação
na estação seca. A frutificação ocorreu
a intervalos supraanuais com anos de produção intensa,
parecendo estar relacionada a atividadde de dispersores e/ou predadores
de sementes. A dispersão de sementes de copaíba foi estudada
durante dois anos (1990-1991). A produção de frutos variou
de ano para ano e entre os indivíduos da população.
Em 1989 e 1992 não ocorreu frutificação, enquanto
que em 1990 a produção de frutos foi cerca de 10 vezes
maior que a observada em 1991. Os testes de germinação
indicam ausência de fotoblastismo e que o arilo inibe a germinação
da semente. Esta espécie possui sementes de curta longevidade
e rápida germinação, favorecendo a formação
de banco de plântulas. A análise morfológica do
fruto indica características tipicamente ornitocóricas
(dispersão por pássaros). Vários animais foram
observados utilizando os frutos de copaíba, principalmente
mamíferos e aves. O macaco-prego (Cebus apella - Cebidae)
foi observado com maior freqüência, mas seu comportamento
de ingerir o arilo e descartar a semente sob a planta mãe não
favorece a dispersão, embora possa contribuir facilitando a germinação.
A maioria das aves observadas consumindo frutos de copaíba foram
consideradas oportunistas por possuírem hábitos alimentares
generalistas. A ausência de aves frugívoras especialistas,
residentes na área de estudo, levou-me a considerar o bugio (Alouatta
fusca - Cebidae) o principal dispersor, devido a freqüência
das visitas e a capacidade de defecar sementes viáveis. A diversidade
de frugívoros que consomem os frutos de copaíba, a ineficiência
do principal consumidor para dispersar as sementes, a irregularidade
da produção de frutos, com anos de frutificação
intensa seguidos por anos de ausência de frutificação,
sugerem que na Reserva de Santa Genebra, Copaifera langsdorffii
tem uma estratégia de dispersão generalista, não
possuindo nenhum agente dispersor especializado. A predação
de sementes da copaíba foi estudada durante dois anos (1990-1991).
Os predadores encontrados dividem-se em um grupo que ataca os frutos
ainda na copa, e outro que atua após a dispersão. A maritaca
(Pionus maximiliani) e um besouro curculionídeo (Rhinochenus
brevicollis) foram predadores pré-dispersão, enquanto
outro curculionídeo (Spermologus copaiferae) e a saúva
(Atta sexdens) foram predadores pós-dispersão.
A predação pós-dispersão foi restrita às
áreas de cobertura de copa devido ao acúmulo de sementes
nestes locais. A intensidade da predação variou entre
1990 e 1991. As maritacas predaram cerca de 15% dos frutos produzidos
em 1990, mas não foram observadas no ano seguinte. A atividade
dos curculionídeos foi mais intensa em 1991,infestando aproximadamente
35% dos frutos produzidos naquele ano. A ocorrência de anos de
frutificação intensa seguidos por anos de ausência
de frutificação sugere que Copaifera langsdorffii
apresenta como principal estratégia de escape à predação
de sementes o mecanismo de saciação de predadores. Foi
estudada a estrutura populacional de copaíba marcando-se todos
os adultos encontrados numa área de aproximadamente 39 ha. Dentre
estes, foram sorteados cinco indivíduos para amostragem dos jovens.
Sob cada adulto escolhido foi delimitada uma área de 400 m²
centrada no tronco do adulto e subdividida em 16 parcelas de 5 X 5 m.
Todos os jovens presentes nestas parcelas foram marcados com uma plaqueta
de acrílico e tomadas medidas de altura, diâmetro ao nível
do solo e número de folhas. Essas medida foram repetidas a cada
dois meses, por um período de um ano. Os adultos encontram-se
espaçados na área de estudo sendo pouco comum a ocorrência
de agrupamentos. Os indivíduos jovens estão concentrados
nas proximidades dos adultos, apresentam crescimento lento e baixa mortalidade.
A estrutura de tamanho apresenta uma distribuição do tipo
J invertido. A distribuição de jovens está ligada
à curva de dispersão de sementes, não sofrendo
influência da distância, pelo menos na escala de amostragem
considerada. A distribuição espacial final é conseqüência
da variação de fatores ao longo do tempo e espaço,
principalmente predação de sementes e plântulas
e dispersão de sementes. |