Planta destinada à exportação previne úlceras

 

por Ana Carolina Freitas

Notícia publicada na revista ComCiência em 05/02/04:

http://www.comciencia.br/noticias/2004/06fev04/plantas.htm

 

 

Duas espécies de plantas comumente destinadas à exportação são capazes de prevenir a formação de úlceras no trato gastrointestinal, problema que atinge cerca de 10% da população mundial. A pesquisadora Leônia Maria Batista, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia da Unicamp, estudou os efeitos da Syngonanthus bisulcatos e Syngonanthus arthrotrichus, duas das espécies popularmente conhecidas como sempre-vivas, em modelos animais que reproduzem as úlceras do homem. "Os experimentos mostraram excelente proteção da mucosa gástrica contra os agentes indutores de úlceras", revela Batista.

 

A úlcera pode ser causada pelo consumo de álcool e cigarros, pelo uso contínuo de antiinflamatórios, como piroxicam, diclofenaco de sódio ou de potássio, nimesulida, aceclofenaco e ibuprofeno, e por alimentação inadequada. O desenvolvimento de úlceras no organismo pode estar associado ainda a um agente infeccioso, como a bactéria Helicobacter pylori, mas o indivíduo também pode ter predisposição genética ao problema.

 

A pesquisa representa uma estratégia para o isolamento de substâncias ativas que possam gerar medicamentos nacionais eficazes e seguros que atuem na prevenção ao desenvolvimento de úlceras, pois essas espécies são encontradas na Chapada Diamantina, Bahia, e na Serra do Cipó, em Minas Gerais. Apesar dessa possibilidade, a pesquisadora ainda não tem previsões sobre o possível desenvolvimento de medicamentos ou estímulos ao uso fitoterápico da planta.

 

Os critérios de escolha do gênero Syngonanthus para o estudo foram quimiotaxonômico, ou seja, baseado em composto químico ativo previamente observado em alguma espécie de um dado gênero ou família, e filogenético, seguindo orientação de planta do gênero ou família que demonstrou atividade biológica em estudo anterior. De acordo com a pesquisadora, o gênero é rico em flavonóides, substâncias com atividade antioxidante, ou seja, que inibem a ação dos radicais livres no organismo, prevenindo o envelhecimento das células. “Já a escolha das espécies baseou-se no fato de que essas plantas, além de serem ricas em flavonóides, são exportadas para todo o mundo como plantas ornamentais”, explica.  

 

Em geral, as sempre-vivas são utilizadas na confecção de arranjos e buquês. Estados Unidos, Japão, Canadá, Espanha e Itália estão entre os países compradores desse tipo de flor. A coleta das plantas para exportação garante o sustento de muitas famílias das regiões onde elas são encontradas, mas também coloca em risco de extinção várias espécies de sempre-vivas.

 

A pesquisa desenvolvida por Batista, sob orientação da professora Alba Regina Souza Brito, coordenadora do Laboratório de Produtos Naturais, resultou em tese de doutorado, defendida em dezembro, na Unicamp. Os resultados obtidos no estudo serão agora enviados para publicação em revistas internacionais.